Noutro dia esperava notícias. Não boas nem ruins. Notícias dos últimos tempos, dos últimos dias. era como se aquilo fizesse falta pro meu dia a dia. Saber do seu era fina brincadeira de coincidir. Era bom saber do vento, o vento sudoeste que te batia na cara, se corresse bicicleta beira mar. Uma recaída pelos versos seus. Não os do livro. Aqueles escondidos entre as frases ditas escritas nesses últimos anos. não é o mesmo te visitar. Todos te visitam. Era bom quando marcávamos encontro ou se fosse por acaso. Gostava de descobrir a cor da tua camisa. Via sua barba crescer enquanto a estante sempre arrumada numa sala escura. Era bom me despir e não pensar mais nas palavras nítidas. Aliás, nesse tempo até a gramática mudou. As coisas sofrem alterações e essa fissura que não muda. Também não cicatriza e nem dói. Enche de posts a minha vida. Alucina-me de vírgulas. E eu minto que já passou. Era bom seu sopro na minha nuca enquanto a alça do vestido caía. Um eufórico desfile de suspiros, reticências e copos d’água. Nenhuma metáfora jamais completaria aquele sentimento das tardes de terça-feira. Era pouco mais que encantamento. Me deu saudade dessa agonia.
14 outubro, 2009
sem assunto
queria escrever
um poeminha pequeno
pequeno e bonito
que falasse aos ouvidos
palavras quase indizíveis
quando olhos nos olhos
nem precisava de rima
nem de destino
se você lesse e surpimisse
tudo aquilo que agora sinto
mas esse poeminha
franco ou fraco
ficou no vácuo
e eu só consigo
pensar porque
eu demorei por dizer
que você mexe comigo
dum jeito que eu nem sei
mas que é muito
pena que ficamos sem assunto
cada um num canto
sem poema e sem susto
um poeminha pequeno
pequeno e bonito
que falasse aos ouvidos
palavras quase indizíveis
quando olhos nos olhos
nem precisava de rima
nem de destino
se você lesse e surpimisse
tudo aquilo que agora sinto
mas esse poeminha
franco ou fraco
ficou no vácuo
e eu só consigo
pensar porque
eu demorei por dizer
que você mexe comigo
dum jeito que eu nem sei
mas que é muito
pena que ficamos sem assunto
cada um num canto
sem poema e sem susto
07 outubro, 2009
palarvas
Ele pensa que sou demais. Me devora em pensamentos que analfabetizam a razão. Abre minhas páginas e passa as mãos nelas. Acredita quando eu uso a palavra sussurro. Acredita até naquelas em desuso. Eu não faço cena. Incremento elementos mas não faço cena. Atinjo orgasmos lá pelo terceiro, quarto parágrafo. Mas ele goza no primeiro porque me acha demais. Chega a ter insônias depois que me lê. Seriam insônias produtivas? Hoje ele me confessou que gosta do escuro pra me decifrar. Fecha a cortina, acende apenas um abajur que regula a luz fraquinha, encosta nas almofadas e começa a fantasiar contextos entre as minhas frases. Eu e minhas frases soltas. Todas as frases são soltas se escritas e não supomos seus caminhos, enfim. Chega a esquentar o estômago, ele diz, quando no texto existe reticência. Diz que fica sem fôlego imaginando as curvas e desníveis de letra por letra que a reticência economiza. O que ele não sabe é que não existe sentido. Tudo o que revira é porque nasceu revirado. Vem vindo sem avisar e de repente se traduz ali. Meia dúzia de fragmentos interligados e até parece história que aconteceu. Preciso confessar que conto com uma criatividade plantonista em madrugadas de calor intenso. E justamente nessa hora eu prefiro ser apenas uma língua tênue entre o descabido e a rima. Uso da palavra para ritmar os signos e às vezes funciona de ser melodia. Mesmo na invenção existe tormento. E a invenção acaba que é esse tormento sempre. Porque criar não exige gesto feliz. Goza quem impressiona. Até me acharia demais não fossem as barbaridades que cometo. Troco tudo de lugar e nem me mexo. E ele se comove quando eu meto palavra por palavra nesse texto. Pobre homem que me lê em desassossego.
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