01 maio, 2022

madRUgAda

 

ainda não sei

e não há como saber

como vai ser quando

nos encontrarmos e nos

despedirmos

 

ainda é madrugada

e as respostas dormem

se constroem

de repente são desejos

e reticências

27 julho, 2021

))))))) chuva de ar (((((((

 

litoral não esconde chuva

é vento que avisa

é fim de brisa

e vendaval que abre

o caminho das águas

quem mora na praia

na beira, no canto

quem navega, quem anda

nessa hora e sem pranto

recolhe o santo

temporal de inverno

na costa do mar

assusta, inebria

faz de conta

que recomeça o mundo

quando vem vento

18 maio, 2021

confortável ironia

 

há de ser incompreensível que um poeta 

dedique seus parágrafos ao amor 

diante das mazelas do mundo  

falar de amor em meio à morte 

é desaforo pronto, inafiançável

um acordo de cavalheiros

em humanidade tão abissal

chega a ser um despropósito

uma cortina de fumaça

pra esconder nosso pior


mas que é bonitinho, é


09 maio, 2021



<=   RUMO   =>


uma mãe sem cria

em meio à pandemia

falta prumo, poesia


22 novembro, 2020

quinqui - lharias


abriu-se ao novo velho amor e 

debruçou-se sobre lembranças que

nunca se apagaram da

abalada memória pra

reinventar futuro e suas

limitadas possibilidades de

mudar presente quando a

coerência não acompanha o

afeto que foi-se desgastando e

terminou sem ter fim o

dia

ainda há sol na 

intermitente madrugada da 

frustração e do desa

sossego violento do 

vento




25 agosto, 2020

ooo p o e n t e ooo

 aonde vai o olhar até horizontar-se? 


precisa ele sair das montanhas e caminhar

deixar que atravesse o sereno e as neblinas

travessia atenta, duradoura


na reta esplêndida, piscar

nada muito demorado

porque há mais caminhada


na saga dos olhos

entre suor e lágrimas

é importante brincar


abrir lentamente um

enquanto o outro, rígido

finge dormir


os olhares obedecem

alguns instintos

e outras abstrações


dizem mais que poemas

são janelas da alma

que nem mesmo vidros molduram


até horizontar-se

o olhar se perde

se acha


se perde

e acha que se achou

perdido no mar


o olhar deriva

de todas as noites

em que ficamos à deriva


esperando respostas

que olhares esguios

nunca trazem


e também se compõe

dos pequenos fragmentos

entre a noite e o dia


é do entardecer

o momento em que

o olhar poente 


é mais, é mar


02 junho, 2020


Inútil POEMA inútil

a poesia termina
depois da música
antes do amanhecer
quando não há reticências
ou desejo de resistência
se vai por entre dedos
ainda que atados
se não há força
que a segure ali
vira qualquer coisa
palavras ao vento
rimas toscas
que não lemos
não sobrevive
em terreno árduo
se não regada
em sangue
vira farofa
resseca sentimentos
finge impacto
e não sai de si
poesia não precisa existir
se não for inevitável
a inutilidade
tende a ser
a única virtude
que não morre na poesia
tampouco no amor

01 fevereiro, 2020

- COM - JUNÇÕES -


O mar continua agitado
Horizonte que se move
Vida, naufrágio contínuo
O afogar-se em certezas, todavia,
Diluídas

A beleza que o tempo estragou
Cicatriz de dor que não cura
A pessoa que não é a mesma
E aquilo que, contudo,
Ultrapassa

Frágeis semelhanças            
Entre o literal e a fantasia
Fogueira que derrete razão
Enquanto queima, quanto mais,
Esperanças

Palavras que juntas não são poemas
Costura frouxa que se rasga com o uso
O grito que quebra o confiar
E o finito passado, por fim,
Morto

E não há conjunção que una o que não é invariável

(.) abuso em síntese (.)


você falou tanto
nos primeiros minutos
que me tonteou

depois foi se calando, calando
e não disse mais nada
nada de mais


até aquele grito que calou tudo


.V.U.L.V.E.R.


Mulheres não são puras, tampouco o querem ser. Mulheres que são mães têm valentia de guerra, sem a ignorância da violência. As que não são, têm mais paciência. Mulheres não demoram a desaprender, se preciso for, o costume do afeto. Palavras bonitas não aprisionam mulheres. Nem fazem delas passivas. Mulheres gritam sem som e com som, a depender dos ouvidos e dos motivos. São elas, as mulheres, que costuram histórias como se fossem longos vestidos sem avesso. Ponto por ponto, tecem a tímida liberdade do cotidiano. E do contínuo. Mulheres são plurais no prazer e na prosa. Falam muito mesmo (e de diversas maneiras). Não se pode esquecer que elas sangram. E que um dia percebem em silêncio íntimo que não podem mais gerar. Seguem cuidando do sol e da lua, do mar e da areia. Mulheres se jogam nas águas correntes e são nelas, nas águas, onde voltam a ser meninas. Meninas são mulheres em composição. Mulheres não são feministas, são mulheres. Feminismo é resposta. A pergunta está em elaboração. Não pode ser a vulva o que as define. Há mais e mais e mais. Homens são mulheres quando da alma feminina. E essa alma é política, e não abençoada. Uma música pode transformar uma mulher em suicida. Ou em puta. E as putas são mulheres fodas. Mulheres não são mercadoria. Mulheres não são bruxas, mas tenha precaução com essa sabedoria que desturva águas e intui perigos.