a vontade era escrever uma carta física. escrito que contivesse caligrafia e cheiro. onde pudesse rabiscar os erros. onde tivesse linha pra deslizar. que por descuido me levasse fios de cabelo. mas eu não posso. não tenho sequer o endereço. eu de joelhos diante desse desejo. os meus apelos subindo pelas paredes. distraí por um triz e nunca mais voltei. de quatro no quarto do paupérrimo hotel. pensando lingeries pra passar a noite só. molhando pensamentos no copo de gelo. vivo ardentemente a ausência de pudores. penetro na fantasia de um homem só. não costumo administrar impulsos e por isso o improviso meu acaso. certas palavras somem na boca. a mesma boca que desliza da nuca às costas magras. mas aqui eu queria dizer uma coisa. ao mesmo tempo que corrói, abre. se abusa, sobra. se acaba, dói. uma carta que selasse o pacto. abuso de palavras na ausência da pele. confisco de ladaínhas na inexistência de sussurros. um ai reticente vindo do mais profundo orgasmo literário. como flores de papel no céu do quarto. mas nem isso eu posso. não sei onde mora o meu desassossego.
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