21 outubro, 2008

visita

saíram já era de madrugada e chovia. burlaram a rodovia iluminada e foram costurando ruas com fumaça e passo. comemoravam o reencontro e entendiam que aquela noite seria singular. de frente pro mar, conversaram num banco, balançando as pernas. não se conheciam de infância, mas da adolescência. dos tempos do jacó e dos chocolates na porta do parque. é preciso dizer que nessa época não se confiavam muita prosa. isso só foi acontecer, só foi acontecendo quando se perceberam perdidas. e perdidas, viram como eram parecidas. depois das primeiras lágrimas, entraram no 24h, escolheram a mesa do canto, com quatro cadeiras, uma quebrada. beberam a primeira que a garçonete fortinha trouxe em poucos minutos. não sei se brindaram. e tiveram uma conversa que poucas vezes acontece entre os humanos. porque não acontecia de precisar esconder nada entre elas. o que era dito era sentido, mesmo quando não tinha sentido algum. tomaram várias, fumaram vários. quer dizer, uma só fumou vários, a outra comia azeitonas. lá fora clareava quando quiseram levantar. abraçadas, cantaram. numa ressaca lisérgica, enquanto uma na estrada, a outra nescau de colherinha. sabiam que se sabiam muito depois daquela noite.