12 junho, 2008

A existência humana é uma grande insistência.

Insistimos em amar amores de novela, como se todo dia tivesse que acontecer um final feliz pra ser comemorado. Um amor sem contratempos, um amor morno e estável, vivido por personagens hollywoodianos que nunca se aborrecem com mesquinharias da convivência.

Insistimos nos amigos heróis, sempre dispostos a atender e entender nossas súplicas desesperadas. Amigos insuperáveis na capacidade suprema de compreender cada dilema que inventamos.

Insistimos no sonho de dias melhores. Sem tanta miséria, sem tantos limites. Onde cada um pudesse fazer valer seus direitos e ainda ter o domingo livre pra ir ao cinema e jogar futebol. Somos inclusive medíocres em nossa utopia. Nem é muito o que desejamos. E mesmo assim, a cada instante, parece que tudo vai nos fugindo por entre os dedos.

Insistimos nesse modelo ditatorial de felicidade, onde todos somos obrigados a compartilhar nossos melhores momentos e a distribuir sorrisos, mesmo quando somos metralhados pelos trançados do cotidiano. Em nome dessa felicidade, menosprezam nossas angústias, não nos deixam em paz pra desfilar nossas desconfianças, como se a barbárie fosse uma resposta natural do progresso, ignoram nossas contradições, como se todos os dias tivessem que ser ensolarados.

E por não insistirmos nessas desconfianças é que não conseguimos, coletivamente, existir.

09 junho, 2008

download

ah eu vou escrever qualquer coisa, ninguém lê essa merda mesmo. porque na verdade eu não tô afim de escrever nada. ou sobre nada especificamente. apenas escrever por escrever. para ouvir o barulho das teclas. às vezes parar e dar uma tragada no filtro branco light. e descrever a fumaça azul na fresta da janela com(o) a própria fissura das palavras quase ditas. exercício de solturamorterapia na literatura vulgar dos bordéis e dos blogs. totalmente praticáve e prazeroso, condenado pelos covardes que não brindam os seus vícios. eu nem sei mais. o sortilégio foi ficando pra trás. pés no chão, olhos fechados e um bando de andorinhas em revoada. alguma coisa sempre escapa em vôo. )( .

ouço rumores de que é preciso que se faça já. ligo pro disque-banco e o saldo continua em dois reais e dezenove centavos. paralizo meus impulsos, os sutis e os aricados, porque não tenho a liberdade para consumi-los. consumá-los. e toda uma parafernalha de desenroscos acontece na minha cabeça quando me falta dinheiro pros deleites. para o indispensável eu não ligo, improviso. meu sonho de consumo poderia ser aquele cruzeiro de fim de ano com show do rei. uma lipo não cairia mal. preciso trocar o celular porque enjoei da cor do meu. mentira. tudo mentira. eu só gasto com gosto. livros, vinis e viagens mochileiras. não sou eu que consumo os vícios, eles sim me consomem. nesta entresafra abstinente, salve a pirataria. penso o que seria do mundo sem o download.