27 setembro, 2008

faxina

um sábado de faxina por aqui. desocupando caixas, tirando o pó e o lixo antes que eles me tirem de cena. respiro mais cautelosamente porque cheguei na página onze da minha produção acadêmica de palavras viciadas, onde minhas impressões e metáforas valem nada diante da coerência teórica. rigidez que ultrapassa as normas da abnt e silencia poemas até dezembro. coeso tempo em que moro numa cadeira e minha janela é windows, meu horizonte, tese. as abstrações tiraram férias e naugrafam outros mares, porque em mim tudo é cronometrado e exigido. por um segundo um prazer. produzir ainda seduz os poros, mesmo que sufocados. até que uma hora, um prazer por segundo. porque o movimento que não cessa empurra-me novos desejos e sou livre amanhã. e sou. afastada de amigos e sexo e cerveja e sol, num celibato imposto pela exigência que brota aos 30, destituo-me da obrigatoriedade de ser feliz cotidianamante para mais além mergulhar de cabeça. não se programa o sentido e o sentir, eu bem sei. mas de toda secura arrebenta um ai. de todo sufoco minam mudanças. amasso velhos papéis, descarto telefones em guardanapo, percebo que o forro da bolsa é vermelho. havia me esquecido que adoro sutilezas. como isso pôde acontecer eu não sei. e não me importa. sou só a entrelinha entre a vida e o verbo.